Por Areovaldo Ramos*
Certamente, o cidadão comum que acompanha o desenrolar do caso do Senador Demóstenes Torres, acusado de ser o representante do bicheiro Carlinhos Cachoeira no Congresso Nacional, nas mais altas cortes do judiciário brasileiro e também em alguns governos de alguns estados do Centro Oeste deve ser perguntar: mas como este cidadão que até tempo atrás representava a oposição de forma tão coerente e lutava contra os corruptos governistas pode estar ligado ao crime da contravenção e devendo obediência a bandidos?
Quando o cidadão ou a cidadã se pré-candidata a algum cargo eletivo do legislativo ou do executivo, a disputa passa por várias etapas. A primeira delas é na hora do partido decidir quem irá concorrer como candidato, e candidato a candidato é o que não falta, pois todos os partidários tem o direito legal de participar do processo.
Trazendo o caso para o contexto eleitoral de nossa cidade percebemos que existe um grande número de pré-candidaturas que envolvem desde o cargo de vereador até o cargo de prefeito. Aqui começa as despesas de quem pretende levar sua candidatura até o fim, pois muitos destes pré-candidatos se colocam como tal apenas para vender a qualquer preço a possibilidade de sair da disputa. E os custos deste processo envolvem dinheiro, influência politica e muitas outras coisas que nem vale a pena discursar a respeito.
Voltando para o cenário do Congresso Nacional, em especial ao Senado Federal, o grau de influência de um Senador é algo difícil de mensurar. Mas não podemos ignorar que o processo decisório de interesse dos estados é discutido naquela casa de leis. Assim fica fácil para nós simples mortais entender como deve ser o processo de escolha de um pré-candidato ao Senado e a quem interessa este ou aquele pré-candidato, e mais, em que ambiente, insalubre ou “limpo” se concentra a elaboração das listas partidárias. Então, se existe custo de pré-campanha, no caso dos candidatos ao Senado às cifras são difíceis de levantar, mas deve cruzar a casa dos nove dígitos.
Assim aconteceu com o Senador Demóstenes Torres, que para se eleger em 2002, tirando do seu caminho muitos correligionários que se pré candidataram, teve que aceitar o dinheiro do crime organizado. E mais, para vencer as eleições com certeza deve ter gasto milhões de reais, sendo que o citado Senador desbancou políticos tradicionais do estado de Goiás como o ex-governador Iris Rezende, lembrando sempre que seu oficio de Promotor de Justiça não o credenciaria a ganhar aquelas eleições.
Diante do assunto levantado, é importante saber que o financiamento privado geralmente vem de pessoa jurídica. Apesar de a legislação restringir os valores doados, é claro que existem meios de burlar a fiscalização. O dinheiro levantado e utilizado em campanhas eleitorais servindo na maioria das vezes para subornar os eleitores com a tradicional “compra de votos”, mas como vimos anteriormente, serve também para comprar pré-candidaturas e convencionais (delegados com direito a voto nas convenções).
A reforma politica que está sendo preparada no Congresso Nacional prevê a necessidade urgente de se modificar a legislação eleitoral e criar o financiamento público de campanhas eleitorais. Esta medida com certeza no meu entender poderia ajudar a diminuir o abuso do poder econômico, mas seria viável apenas para solucionar o problema durante a campanha politica, porém é claro que a pré-campanha continuaria sendo tocada conforme os interesses dos caciques partidários.
Neste momento em que o país assiste a mais um episódio de corrupção envolvendo a classe politica, e bem lembro que este episódio confirma o que passa na cabeça de cada cidadão (â) brasileiro: a politica é apenas um objeto para “ajeitar” a vida de alguns poucos em detrimento do bem comum da grande maioria dos brasileiros (as). A resposta que se espera é a punição com o rigor da lei, haja vista que o principal envolvido de leis entende a exaustão, pois sua carreira profissional se desenvolveu em torno do judiciário.
Com relação as nossas eleições municipais que estão chegando, é importante que o eleitor (a) tenha em mente que os custos dos candidatos eleitos e seus suplentes, dizem na base da boca pequena, girará em torno de R$350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais). O que nos da também a dimensão do custo/beneficio, pois desembolsar esta quantia de dinheiro agora para receber ao longo de quatro anos parcelas de R$ 10.000,00 (dez mil reais) (futuro salário dos vereadores); o que equivale a um montante de R$480.000,00 (quatrocentos e oitenta mil reais) obviamente não é um bom negócio.
Fica a nossa colaboração a titulo de orientação para aqueles (as) cidadãos (ã) que pouco participam ou se preocupam com o que acontece dentro dos diretórios partidários, e tomando como uma pequena parte de um processo que se desenrola ao longo de quatro anos quando os políticos somem das nossas imediações, é oportuno fazer uma reflexão sobre o assunto: Para onde eles vão ou a quem representam quando não necessitam de nós eleitores?
Cientista Social formado pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados); Analista Politico (por minha conta e risco); eleitor douradense. E-mail: areramos@bol.com.br – Facebook: Areovaldo Antônio Ramos
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